quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A Crise Americana bem Explicada...


Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou pro Paul se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.

Com os 800.000 dólares. Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) pra ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 63 polegadas , 43 notebooks, 1634 cuecas.
Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.

Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez...

O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil... Parecia fácil.

Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o Paul percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.

Milhões tiveram a mesma idéia do Paul. Tinha casa pra vender como nunca.

Paul foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito.

Aí as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as 3 casas mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago. Paul se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.

Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou. Ele e sua família pararam de consumir...

Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer pó.

Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel... Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.

O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.

O FED (banco Central Americano) começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez.
O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos.
Essas ações foram corretas e até agora não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão.

O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, na segunda feira última, quebrado, insolvente.

No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos espera na próxima segunda-feira.

O que começou com o Paul hoje afeta o mundo inteiro. A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo dirá.

E, no dia 15 de Setembro/2008, o Lehman Brothers pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de mais de 500 (quinhentos) pontos no Indice Dow Jones, que mede o valor ponderado das acoes das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores de New York, a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929...

Qual foi a primeira cidade brasileira a ser planejada?



Foi Salvador, capital da Bahia, fundada em 1549 por Tomé de Souza, o primeiro governador geral do Brasil. A cidade foi erguida tendo como base um traçado geométrico elaborado por Luís Dias, arquiteto nomeado pela Coroa portuguesa. Não sobrou nenhuma cópia da planta inicial de Salvador, mas quando se examina o mapa mais antigo existente, de cerca de 1620, dá para ver que na construção da primeira capital brasileira foi usada uma planta urbana muito semelhante àquilo que os arquitetos europeus do período renascentista (séculos 15 e 16) consideravam como uma cidade ideal. Quando se olha hoje o traçado das ruas da parte central de Salvador, que corresponde ao setor construído por Tomé de Souza, dá para perceber que as quadras e praças são todas retangulares. Na maioria, apresentam forma semelhante a um quadrado, como se fizessem parte de um grande tabuleiro de xadrez. Apesar de Salvador ser considerada a primeira cidade brasileira a ser planejada, os especialistas afirmam que esse título é um pouco discutível.

“Muitas outras vilas e cidades do Brasil obedeceram a critérios de planejamento urbano, com a finalidade de atingir determinados objetivos”, afirma o arquiteto e urbanista Antônio Carlos de Oliveira, da Unesp, em Bauru (SP). É que, de maneira geral, as mais antigas ocupações urbanas no Brasil obedeciam a um certo planejamento, ainda que sem um traçado geométrico preciso. Isso porque suas construções tinham funções específicas, como garantir a posse do território para Portugal e a exploração dos recursos naturais da colônia. Um bom exemplo de uma cidade anterior a Salvador que foi razoavelmente planejada é a parte antiga de Olinda, em Pernambuco, fundada em 1537. Os desenhos mais velhos mostram que no local em que se situavam a Igreja Matriz e a chamada torre do governador havia duas ruas retas, paralelas entre si. Depois, com o desmoronamento de parte do morro onde estava uma delas, a maioria desse traçado acabou se perdendo com o tempo.

Status de superpotência dos EUA está ameaçado.

Análise: Status de superpotência dos EUA está ameaçado

Paul Reynolds
Da BBC News

Os Estados Unidos vão continuar dominando o mundo no futuro?
A crise econômica global deve abalar o status dos Estados Unidos como única superpotência da atualidade.
Do ponto de vista prático, os Estados Unidos estão militarmente no limite, com operações no Iraque e no Afeganistão – e, agora, estão também financeiramente no limite.

Do ponto de vista filosófico, vai ficar mais difícil para os americanos defenderem o livre mercado em um momento em que o seu próprio mercado entrou em colapso.

Alguns já vêem o atual momento como crucial.

O filósofo político John Gray, que recentemente se aposentou da prestigiada faculdade de ciências sociais London School of Economics, em Londres, deu seu ponto de vista em um artigo no jornal britânico The Observer: "Temos aqui uma histórica mudança geopolítica, na qual o balanço de poder do mundo está sendo alterado de forma irreversível".

"A era da liderança global americana, que vem desde a Segunda Guerra Mundial, está acabada… a crença americana no livre mercado se autodestruiu, enquanto outros países que mantiveram um controle geral dos mercados tiveram sua vingança."

"Em uma mudança com implicações mais amplas do que a queda da União Soviética, um modelo inteiro de governo e de economia entrou em colapso."

"Quão simbólica é a imagem de astronautas chineses fazendo uma caminhada no espaço enquanto o secretário do Tesouro dos Estados Unidos fica de joelhos", diz.

Não é o fim do mundo

Nem todos concordam que o apocalipse americano chegou. Afinal de contas, o sistema passou por testes no passado.


Bolton não acredita que os EUA estão em decadência

Em 1987, o índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, caiu mais de 20% em um único dia. Em 2000, a bolha do "ponto com" estourou. Ainda assim, em ambos os casos, os Estados Unidos se recuperaram, como fizeram depois da Guerra do Vietnã.

Os comentários do professor Gray certamente não impressionaram uma dos mais ferrenhos neoconservadores a servirem no governo Bush, o ex-embaixador dos Estados Unidos na ONU, John Bolton.

Quando apresentei a ele as declarações de Gray, ele perguntou se o professor por acaso estava vendendo os ativos que possui nos Estados Unidos.

"Se estiver, onde ele está aplicando o dinheiro? E se ele não tem ativos nos Estados Unidos, por que devemos prestar atenção nele?"

Não obstante, parece de fato que o conceito de uma superpotência sem concorrentes, que se tornou verdadeiro após o colapso do comunismo (e o suposto fim da história) não é mais válido.

Mundo multipolar

Até mesmo os mais destacados pensadores neoconservadores reconhecem que um mundo mais multipolar está surgindo, mas um em que a posição americana será de liderança.


"Até mesmo os mais destacados pensadores neoconservadores reconhecem que um mundo mais multipolar está surgindo, mas um em que a posição americana será de liderança."


Robert Kagan, co-fundador em 1997 do Projeto para um Novo Século Americano, que pregava uma "liderança global americana", disse em um artigo na revista Foreign Affairs: "Aqueles que hoje proclamam que os Estados Unidos estão em decadência freqüentemente imaginam um passado em que o mundo dançava de acordo com a música americana, em posição de inferioridade. Isso é uma ilusão".

"O mundo hoje se parece mais com o do século 19 do que com o do final do século 20."

"Aqueles que imaginam que isso é uma boa notícia devem se lembrar que a ordem mundial no século 19 não chegou ao fim tão bem quando a Guerra Fria."

"Para evitar esse destino, os Estados Unidos e outras nações democráticas precisam ter uma visão mais iluminada e generosa de seus interesses do que eles tinham durante a Guerra Fria. Os Estados Unidos, no papel da mais forte democracia, não devem se opor a um mundo de reduzida soberania, mas dar boas-vindas a ele.”

"Ao mesmo tempo, as democracias da Ásia e da Europa precisam redescobrir que o avanço rumo a essa ordem liberal mais perfeita depende não apenas da lei e da vontade popular, mas também do apoio e da defesa de nações poderosas."

Novo ceticismo

Robin Niblett, diretor de um dos principais centros de estudos britânicos, Chatham House, disse que um americano que defendeu a continuidade da liderança americana no mundo enfrentou ceticismo em uma conferência a que Niblett compareceu em Berlim.

"Os Estados Unidos são vistos como relativamente decadentes e tem havido um aumento enorme dessa percepção nestes dias finais do governo Bush", disse Niblett, que trabalhou dos dois lados do Atlântico. "A ascensão de novas potências, o aumento da riqueza oriunda do petróleo em alguns países e a disseminação do poder econômico pelo mundo reforçam isso."

"Mas precisamos diferenciar o momento imediato de sua base. Não há dúvida de que o presidente Bush criou alguns de seus próprios problemas. O uso até o limite do poder militar do país e a crise econômica podem ser atribuídos ao seu governo."


Apesar dos avanços no espaço, a China pode ter fome no futuro

"Seus cortes nos impostos não vieram acompanhados pela redução nos gastos. O efeito combinado de fatos como as derrotas no Iraque, as dificuldades no Afeganistão, o rechaço da Rússia à interferência americana quando os russos se envolveram na Geórgia e em outros lugares, tudo isso conduz à sensação de que trata-se do fim de uma era."

Força empreendedora

Niblett, entretanto, acredita que é preciso esperar um pouco antes de anunciar um veredicto, já que estruturalmente os Estados Unidos ainda têm força.

"Os Estados Unidos ainda são imensamente atraentes para imigrantes qualificados, e ainda são capazes de produzir uma Microsoft ou uma Google”, continuou.

"Mesmo suas dívidas atuais podem ser revertidas. Eles têm uma enorme resiliência econômica, o que se vê na produção local e no surgimento de novos empreendimentos."

"E há quem possa perguntar – os Estados Unidos estão em decadência em relação a quem? A China está em uma corrida desesperada de crescimento para alimentar sua população e, com isso, evitar transtornos civis em 15 ou 20 anos. A Rússia não é exatamente inofensiva, mas está ampliando seus limites com uma nova estratégia assentada em uma base frágil. A Índia tem imensas contradições internas. A Europa tem, em geral, se mostrado incapaz de sair da estagnação com o dinamismo dos Estados Unidos.”

"Mas os Estados Unidos precisam reencontrar seu caminho nas finanças e o quão bem conseguirem fazer isso vai determinar como será sua capacidade militar. Se tiverem menos dinheiro, terão menos tropas."

Com a eleição presidencial americana se aproximando, valerá a pena voltar ao assunto dentro de um ano para verificar como o mundo vai estar - e qual será o lugar dos Estados Unidos nele.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081001_eua_superpotenciarg.shtml

Mercosul: site oficial.



Site oficial do Mercosul.Português/Espanhol.

http://www.mercosur.int/msweb/portal%20intermediario/pt/index.htm

Simulação de emissão de CO2 em tempo real no mundo.



Mapa Mundi que além das emissões de CO2, mostra também as taxas de natalidade e mortalidade em tempo real de todos os países do mundo.Vale a pena conferir.

http://www.breathingearth.net/

sábado, 15 de novembro de 2008

Visite alguns Museus!

Museu Histórico Nacional, criado em 1922, é um dos mais importantes museus do Brasil, reunindo um acervo de mais de 287.000 itens, entre os quais a maior coleção de numismática da América Latina. O conjunto arquitetônico que abriga o Museu desenvolveu-se a partir do Forte de Santiago, na Ponta do Calabouço, um dos pontos estratégicos para a defesa da cidade do Rio de Janeiro.

http://www.museuhistoriconacional.com.br/


Página eletrônica do CPDOC, Escola de Ciências Sociais e História da Fundação Getúlio Vargas. Criado em 1973, tem o objetivo de abrigar conjuntos documentais relevantes para a história recente do país, desenvolver pesquisas históricas e promover cursos de graduação e pós-graduação.

http://www.cpdoc.fgv.br


Museu virtual do Banco Central que conta a história do dinheiro no Brasil e no mundo.Contém imagens das primeiras cédulas e moedas nacionais.

http://www.bacen.gov.br/?MUSEU


Museu Americano de História Natural

http://www.amnh.org/


Smithsonian National Air and Space Museum

http://www.nasm.si.edu/


Museu do Louvre

http://www.louvre.fr


Museu do Vaticano

http://www.christusrex.org/www1/vaticano/0-Musei.html


Museu Britânico

http://www.britishmuseum.org/default.aspx


Johnston Geology museum

http://www.emporia.edu/earthsci/museum/museum.htm


Dakota Dinosaur Museum

http://www.dakotadino.com/

Viciados em petróleo. parte I

Viciados em petróleo. parte II

Viciados em petróleo. parte III

Viciados em petróleo. parte IV

Viciados em petróleo. parte V

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ESPECIAL: ENERGIAS DO MUNDO.



A demanda global por energia aumentou nos últimos 150 anos, acompanhando o desenvolvimento industrial e o crescimento populacional. Especialistas prevêem que a sede por energia deve continuar a crescer em ao menos 50% até 2030, à medida em que países em desenvolvimento como a China e a Índia procurarem manter seu rápido crescimento econômico.

As maiores fontes da energia mundial (responsáveis por cerca de 80% da energia consumida no mundo no momento) são o carvão, o petróleo e o gás natural - os chamados "combustíveis fósseis" por terem surgido séculos atrás a partir de restos de plantas e animais mortos, ricos em carbono. No entanto, essas são fontes que um dia vão se esgotar.

Nas últimas décadas, também tem aumentado a preocupação sobre o impacto ambiental desses combustíveis. Os maiores especialistas em clima alertam que as emissões de gases do efeito estufa, criados pela queima de combustíveis fósseis e por outras atividades humanas, precisam ser reduzidas substancialmente para evitar mudanças climáticas perigosas.

A pressão para substituir os combustíveis fósseis colocou em evidência as chamadas fontes renováveis de energia - como, por exemplo, o Sol e os ventos. Mas elas também enfrentam desafios: as tecnologias viáveis ainda estão se desenvolvendo, e os custos de instalação tendem a ser altos. Essas fontes de energia não devem conseguir uma fatia muito significativa do mercado dentro dos próximos 25 anos.

Combustíveis fósseis



CARVÃO - O principal combustível associado com a Revolução Industrial continua sendo uma fonte de energia essencial. A produção de carvão mineral em todo o mundo cresceu 65% nos últimos 25 anos. As reservas são abundantes, e estima-se que durem pelo menos mais 164 anos - mais do que o petróleo ou o gás natural. O carvão supre 24% das necessidades primárias de energia mundiais, e é a maior fonte única para a eletricidade no planeta (40%). Mas ele também é o combustível que emite mais gases poluentes proporcionalmente, levando-se em conta a energia que produz).

PETRÓLEO - Apesar de conhecido há muitos séculos, só começou a ser usado como combustível recentemente.

Desde o desenvolvimento dos processos de refinaria e o início do boom comercial, há 150 anos, o petróleo assumiu um papel central na economia mundial. Além de ser usado para mover carros, aviões e navios, e para aquecer casas e escritórios, ele também fornece matéria-prima para plásticos, produtos químicos, fertilizantes e tecidos. Ele responde por 6,9% da geração de energia elétrica. A cotação do petróleo vem atingindo altas recordes no mercado internacional desde 2005, por causa da instabilidade em áreas onde ele é mais extraído e por sinais de que os suprimentos podem estar se esgotando.

GÁS NATURAL - É encontrado em bolsões próprios, ou em depósitos de carvão e petróleo. Sua queima é menos poluente que a do petróleo e do carvão, pois ele produz menos dióxido de carbono que esses outros combustíveis. Sua contribuição para a demanda primária total de energia deve subir em 25% até 2030. Ele é uma importante fonte para a geração de energia e a produção industrial. O gás liquefeito e comprimido também é usado em veículos.

Nuclear



FISSÃO - A fissão nuclear a base do atual sistema de produção de energia desse tipo. Ela envolve a divisão dos núcleos de certos isótopos como o urânio-235, durante a qual é liberada grande quantidade de energia. Reatores nucleares comerciais começaram a funcionar nos anos 50 e, atualmente, os cerca de 440 que existem respondem por mais de 15% da energia global. Apesar de prometer energia limpa e abundante, a indústria nuclear enfrenta resistência por parte da opinião pública por causa de acidentes (como o de reator de Chernobyl, em 1986) ou devido à dificuldade de se lidar com o lixo nuclear. Entretanto, com o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e a pressão cada vez maior para que diminua a poluição ligada às mudanças climáticas, alguns países contemplam a possibilidade de expandir sua capacidade de produção desse tipo de energia.

FUSÃO - Esse sistema parte do princípio de que energia é liberada ao se forçar a união de dois núcleos atômicos com menor massa, em vez de dividir um maior. É o processo que cria a energia nas estrelas. Alguns acreditam que a fusão nuclear irá um dia produzir uma alternativa limpa aos combustíveis fósseis, permitindo criar grande quantidade de energia usando combustíveis abundantes, como água e lítio, sem produzir poluentes como subproduto. No entanto, ainda existem muitas dificuldades científicas e técnicas a se resolver antes de essa tecnologia estar disponível para uso comercial - o que não deve ocorrer antes de 2045 ou 2050.

Energias hidrelétrica e eólica



HIDRELÉTRICA - É a principal forma de produção renovável de energia hoje em dia. Ela se fundamenta no aproveitamento da água, que é canalizada para uma turbina e a movimenta, o que alimenta um gerador. Existe um gasto significativo na construção inicial da usina e da represa, mas a energia hidrelétrica é barata, não tem a desvantagem de produzir dióxido de carbono nem depende da variação dos preços e da oferta de combustíveis. Em 2003, quase 16% da energia produzida no mundo vinha de usinas hidrelétricas. Trata-se do principal tipo de energia produzida no Brasil para uso em residências e escritórios.

EÓLICA - A energia eólica é atualmente a segunda mais comum forma de energia renovável, só perdendo para a hidrelétrica. As turbinas, geralmente com dezenas de metros de diâmetro, não poluem e são fáceis de construir. Elas podem ser instaladas tanto em terra quanto no mar, mas a produção de energia depende da existência de ventos. Os críticos também dizem que as turbinas prejudicam muito o panorama. A Europa é a região do mundo onde mais se aproveita a energia eólica.

Energias solar e maremotriz




SOLAR - O Sol é uma fonte de energia não-poluidora e renovável que pode ser aproveitada por meio das células fotovoltaicas. Instaladas em painéis, elas transformam os raios solares em energia. Os painéis já estão instalados em telhados de muitas casas e estabelecimentos comerciais em todo o mundo. Em uma escala maior, sistemas de energia solar foram construídos e estão sendo projetados em várias cidades de países como a Alemanha e os Estados Unidos. A solar é possivelmente a forma mais cara de energia renovável. No entanto, os custos estão caindo e, uma vez instalada, a energia é gratuita.

MAREMOTRIZ - Os oceanos têm um grande potencial energético não utilizado. Pouco conhecidas no Brasil, as tecnologias de energia maremotriz são relativamente novas e pouco usadas, em comparação com as tecnologias para aproveitamento das energias solar e eólica. Os custos ainda são altos, o que significa que, pelo menos por ora, é improvável que essa tecnologia seja competitiva do ponto de vista econômico. Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos, o potencial energético das ondas nas áreas costeiras é de entre dois e três milhões de megawatts. O sul da África, a Austrália e o norte do Canadá são algumas das áreas consideradas ricas em potencial maremotriz.

Outras fontes de energia




Outras fontes de energia

BIOMASSA - Um termo amplo, que abrange materiais não-fósseis de origem biológica que constituem uma fonte de energia renovável. Esse material de origem vegetal pode ser convertido em combustíveis. Alguns tipos de biomassa são mais usados hoje em dia, como os óleos vegetais, grãos e a cana-de-açúcar. Há cada vez mais carros em todo mundo que são movidos a biocombustíveis ou a uma mistura de biocombustíveis e combustíveis fósseis. O Brasil é o pioneiro mundial no uso do álcool combustível em larga escala. Em suas viagens internacionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado incentivar mais países a optar por essa alternativa energética.

GEOTÉRMICA - A energia geotérmica usa o calor do núcleo da Terra, que aquece rochas, fontes de água próximas da superfície ou lençóis subterrâneos, aproveitados com a perfuração de poços. Apenas 0,4% da capacidade de geração de energia no mundo é geotérmica. Na Islândia, água quente é encanada diretamente da natureza e usada no aquecimento das casas. Em vários outros países, como Estados Unidos, Japão e Nova Zelândia, a energia geotérmica também é utilizada.

HIDROGÊNIO - Embora o hidrogênio não seja uma fonte primária de energia (ou seja, ele tem que ser criado a partir de outros combustíveis), estudiosos acreditam que é uma grande promessa para o futuro. O hidrogênio é abundante e não polui. No entanto, a tecnologia para aproveitá-lo ainda tem problemas, e o hidrogênio é difícil de se transportar e armazenar.

ENERGIA DOS OCEANOS - Existe o potencial de se produzir energia se aproveitando a diferença de temperatura entre o fundo dos oceanos e a superfície, aquecida pelo Sol. Há uma estimativa de que menos de 0,1% da energia solar dos oceanos poderia saciar mais de 20% da demanda diária de energia dos Estados Unidos. Mas a tecnologia para aproveitar esse tipo de energia ainda está no futuro distante.

Fonte: bbc.co.uk/portuguese/especial/1931_energia

Dica de livro: Brasil - paisagens naturais



Brasil - paisagens naturais
Marcelo Leite
Edição: 2007 Páginas: 128
Ed. Ática

O Brasil é um dos países com maior diversidade biológica do planeta, e essa riqueza precisa ser protegida. Em Brasil, paisagens naturais, da Editora Ática, Marcelo Leite propõe uma maneira de conhecer, respeitar e preservar nossos grandes biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pampa, Pantanal e Mata Atlântica.

O livro descreve as características espaciais e naturais de cada um dos biossistemas regionais, além de trazer informações sobre o processo de ocupação humana do território, sua população, economia e cultura. Com mais de 260 fotos e mapas, o livro valoriza a fauna e a flora brasileiras, estimula discussões sobre desenvolvimento sustentável e alerta para as agressões e a exploração ilegal das riquezas naturais dos biomas.

A Mata Atlântica, por exemplo, é o mais devastado dos biomas brasileiros, apesar de ser fundamental para manter o ciclo hidrológico na região mais populosa do Brasil. Marcelo Leite mostra que se esse ecossistema continuar sendo destruído um dia poderá faltar água para cerca de 100 milhões de pessoas.

sábado, 8 de novembro de 2008

Racismo- Dois filmes que valem a pena assistir.






Dois filmes observam, a partir de contextos diferentes, a dificuldade de aceitar e conviver com as diferenças

O debate sobre diversidade étnica e cultural tem atravessado o cotidiano escolar com assustadora freqüência, ora sob influência dos programas curriculares, ora pelo interesse dos alunos. Dois filmes recentes abordaram o tema a partir de pontos de vista distintos: Crash – No limite (Paul Haggis, 2004) e Quanto Vale ou É Por Quilo? (Sérgio Bianchi, 2005).


Crash narra a história de alguns moradores de Los Angeles que, embora desconhecidos entre si, interferem uns na vida dos outros. A cada encontro casual (crash pode ser traduzido por “trombada”) eles destilam preconceito, cinismo e agressividade: uma porto-riquenha debocha da pronúncia em inglês de uma oriental, um iraniano ofende os mexicanos, um policial branco humilha um casal negro. Marcados pela origem étnica e posição de classe, nenhum personagem parece capaz de enxergar o outro e compreendê-lo na sua humanidade, diversa e una, simultaneamente.


Neste filme, um sutil jogo de pontos de vista impede o maniqueísmo e aposta na ambivalência dos personagens: o “bom mocinho” aceita um acordo desonesto para livrar o irmão da cadeia, o “cara mau”, branco e racista, se arrisca para salvar uma mulher negra. Esta inversão de papéis e a quebra de expectativas não impedem a lição moral: depois de sofrer, é preciso reverter o quadro de intolerância e racismo.


Para que isto funcione, os elementos narrativos devem conduzir a uma experiência traumática capaz de revelar ao personagem algo novo, sobre seus valores e atitudes. Daí, a mágica dos bons sentimentos: os racistas descobrem o amor pela humanidade, os cínicos são capazes de um gesto honesto, os orgulhosos, de humildade.


Vale discutir que, se o filme traça um diagnóstico complexo das tensões étnicas e sociais da vida norte-americana, a solução proposta é simplista: assume uma perspectiva moralizante que culpa o indivíduo pelas mazelas do mundo.


Em Quanto Vale Ou É Por Quilo?, a narrativa costura histórias da escravidão a uma trama contemporânea sobre exclusão social para compor um quadro desolador da sociedade brasileira. No filme, a intolerância não é assunto moral, mas econômico: o pobre (o escravo) é mercadoria a ser vendida e comprada. Inspirado no conto de Machado de Assis, “Pai contra mãe”, e em documentos do século XVIII, o filme constrói um paralelo entre o tratamento dado aos escravos e a exploração da miséria por organizações não-governamentais. Entre os pobres também não há solidariedade: qualquer trocado compra a dignidade e a vida. Não há redenção, afinal, ninguém vale o que come.


O debate sobre o filme do Bianchi, em sala de aula, costuma ser acalorado, mas a ausência de perspectivas, às vezes, leva os alunos a aceitar a intolerância e o racismo como inevitáveis. Pode ser um bom momento para conversar sobre ética e cotidiano escolar, apontando possibilidades reais de um convívio que respeite a diferença e valorize a diversidade.

Teste seus conhecimentos.

Clique e arraste os continentes e oceanos em sua localização correta no menor tempo possível.
Continentes e oceanos

Países:

Europa

América do Sul e Central

Oriente Médio

Ásia

África

Rodada Doha : o que é?




Rodada Doha leva o nome da capital do Catar e pretende a liberalização do comércio mundial. Negociações já duram sete anos.

A Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) – oficialmente Agenda de Doha para o Desenvolvimento – tem por objetivo liberalizar o comércio internacional. Os países membros da OMC decidiram em 2001, durante encontro em Doha, capital do Catar, iniciar as negociações para facilitar o intercâmbio de bens agrícolas e industriais e de serviços.

As negociações deveriam estar concluídas em 2004. Mas os interesses dos países em desenvolvimento e emergentes se chocam com os dos países desenvolvidos e vice-versa, fazendo com que até hoje um acordo entre as 152 nações da OMC não tenha se tornado possível (a partir de 23 de julho, Cabo Verde se juntará a esse grupo de nações).

Os países da América Latina, da Ásia e da África exigem que os Estados Unidos e a União Européia encerrem seus milionários subsídios agrícolas para que seus produtos se tornem competitivos nesses mercados. Já os países ricos querem que as nações emergentes eliminem seus entraves aduaneiros a produtos industriais de alto valor agregado e suas barreiras legais aos serviços de fora.

Essas diferenças impediram um acordo nas últimas negociações da Rodada Doha, em julho de 2006 e em junho de 2007. A incapacidade de se chegar a um consenso facilitou o surgimento de inúmeros acordos comerciais bilaterais nos últimos meses.

Cabos submarinos .



Cabos submarinos interligando os continentes. Note o fluxo de cabos entre EUA/Europa, China/ Japão/Tigres Asiáticos e os existentes na América Latina e África. Na globalização, esse mapa aponta nitidamente quem faz parte do "rolo compressor" e quem faz parte da "estrada."

China e América Latina são parceiros ou concorrentes?




Quem tem medo dos produtos chineses?

Quem são os ganhadores e os perdedores nas relações comerciais entre a China e a América Latina? Em entrevista, economista alemão diz que a América Latina não tem nada a temer se investir maciçamente em capital humano.

Nos últimos anos, observou-se o rápido crescimento das relações econômicas entre a China e a América Latina. Se, por um lado, o boom inicial das exportações de matérias-primas ao Império do Meio muito alegrou os governos latino-americanos, por outro, a região passou a temer a invasão de produtos chineses e a desaceleração de suas exportações à China devido aos efeitos da crise financeira.

Sobre o tema, a Deutsche Welle entrevistou o especialista em América Latina e professor de Economia de Desenvolvimento da Universidade de Heidelberg, Hartmut Sangmeister, que a convite do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga) de Hamburgo palestrou nesta semana sobre o tema "China e América Latina: parceiros comerciais ou rivais?".

Deutsche Welle: Sua pesquisa A Conexão China: os interesses econômicos chineses na América Latina foi publicada em setembro de 2008, pouco antes da eclosão da crise financeira internacional. À luz dos novos acontecimentos, que conclusões ou prognósticos corrigiria?


Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Hartmut Sangmeister: Brasil e Chile serão os mais afetados com arrefecimento da economia chinesaRecentemente, passei três semanas na China e conversei com empresários e cientistas locais sobre como estavam sendo afetadas as perspectivas econômicas do país pela atual crise financeira. Chegamos à conclusão de que a China não poderá sustentar o atual grau de crescimento econômico e isso traz conseqüências de peso para seus parceiros comerciais na América Latina. Os setores ligados ao desenvolvimento de alta tecnologia para foguetes, satélites e a indústria da aviação não serão muito afetados, mas é um campo de pouca colaboração entre China e América Latina.

Os países que se verão, de imediato, mais afetados pela desaceleração da economia chinesa serão o Brasil e o Chile, exportadores de matéria-prima por excelência para os chineses.

Aceitando que a atual crise financeira que assola os Estados Unidos e a Europa leve a China a vender seus produtos ainda mais baratos para a América Latina, que países e setores produtivos serão mais afetados pela concorrência chinesa e como eles poderiam proteger suas respectivas economias?

México, Guatemala e outros países centro-americanos teriam muito a perder com tal concorrência, pois produzem as mesmas mercadorias que a China: têxteis, sapatos, brinquedos, eletrodomésticos e outros objetos de baixa complexidade tecnológica. A indústria brasileira de sapatos também sofreria o baque da oferta maciça de produtos chineses se o governo não tivesse implementado uma política protecionista forte nesse setor.

Mas essa também não é uma medida sustentável para garantir a saúde da economia nacional. A história da economia mundial nos ensina que, a longo prazo, o protecionismo não faz sentido.

Como os países latino-americanos podem competir em igualdade de condições com a China e outras potências sem implementar condições de trabalho inumanas, processos produtivos danosos ao meio-ambiente ou pacotes econômicos que elevem o índice de pobreza?



Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Aproximação da AL com a China é preocupante?Além do protecionismo ou da liberalização da economia, existe uma terceira opção: o investimento maciço na pesquisa científica, na capacidade inovadora e na educação. Não somente no ensino universitário, mas sobretudo no fundamental e médio. Grande parte da população jovem da América Latina carece da educação mais fundamental e isso faz com que um potencial valioso para o desenvolvimento da região passe despercebido e seja desperdiçado.

Busca-se mão-de-obra barata e sem educação formal na China e na África porque o nível salarial na América Latina já está demasiado alto. A América Latina só poderá competir no mercado internacional quando investir maciçamente no capital humano que já tem, ou seja, quando preparar sua população para exercer atividades que agreguem alto valor à produção.

As sociedades latino-americanas têm uma vontade competitiva perante a China: seus cidadãos têm potencial para reflexão criativa e para o desenvolvimento de inovações. Mas essa vantagem só pode ser aproveitada se o sistema educacional for otimizado.

Em sua palestra, o senhor falou que as relações econômicas entre nações não geram, necessariamente, receitas eqüitativas para as partes envolvidas. No caso das relações sino-latino-americanas, quais são os intercâmbios comerciais mais proveitosos para ambas as partes?

Aqueles em que as necessidades de ambas as partes melhor se complementam. As relações da China com o Brasil são muito boas. Quando se pergunta a um exportador chinês sobre a América Latina, é bem provável que ele só conheça o Brasil. Todos os demais pouco interessam porque o Brasil compra seus produtos acabados e lhes vende matérias-primas de vital importância.

O México e a maioria dos países centro-americanos produzem a mesma mercadoria que a China e entram em competição com esta, mas em posição desvantajosa. Eles são rivais no mercado internacional.

Os EUA temem que seu abastecimento energético seja afetado negativamente devido à exportação de recursos energéticos da América Latina para a China. Que razões a Europa teria – em especial a Alemanha – para temer a conexão China-América Latina?


Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: América Latina sofrerá invasão de produtos chineses?A Europa recebe matéria-prima da América Latina, mas muito poucos recursos energéticos e, por conseqüência, tem pouco a temer. O que os EUA temem é o namoro do governo venezuelano com o chinês, a intenção de enviar petróleo para o outro lado do Pacífico, a dureza do discurso antiamericano de Chávez e a disposição da China – mais retórica que de fato – de apoiar os países latino-americanos que desejam tornar-se economicamente independentes do big brother do norte.

Mas o envio de petróleo da Venezuela para a China é complicado e muito dispendioso do ponto de vista logístico e técnico. Além disso, a China investiu maciçamente numa cadeia de produção na África – desde a produção até o transporte, passando pelo processamento e pela infra-estrutura – para poder tirar dali grande parte de seus recursos energéticos.

Pode-se dizer que a América Latina recebeu a China de braços abertos, mas há setores influentes que sempre sustentaram uma posição crítica perante esse país, principalmente em matéria de direitos humanos e ecologia...

Certamente nem todos os projetos de investimentos anunciados por empresas chinesas são levados a cabo. Os investidores chineses tiveram que aprender que as sociedades civis latino-americanas têm a vontade e a capacidade de recusar projetos que julguem desfavoráveis para seus interesses.

Por exemplo, protestos de ecologistas retardaram consideravelmente a construção de uma siderúrgica no estado brasileiro do Maranhão, avaliada em quase 4 bilhões de dólares. Sua inauguração estava prevista para 2005, mas seu planejamento foi retomado apenas em abril de 2007 após serem introduzidas as modificações inspiradas por esses protestos.



Evan Romero-Castillo (ca)

http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3772867,00.html

VOCÊ ACHA QUE A AMÉRICA LATINA DEVE TEMER A CONCORRÊNCIA CHINESA? DÊ SUA OPINIÃO.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Aquecimento global e combustíveis fósseis

ENERGIA NUCLEAR - O vilão virou herói



O vilão virou herói
Os ambientalistas erraram - e o Sr. Burns, dono da usina nuclear de Springfield, de Os Simpsons, é um herói. Em vez da energia solar, eólica ou hidrelétrica, a força que vai nos salvar do aquecimento global, quem diria, é a energia nuclear
Texto Rodrigo Cavalcante
A rotativa alemã Heidelberg que imprimiu este texto usa cerca de 3 200 kW de energia por hora. Os caminhões Mercedes e Volkswagen que levaram a Super às bancas queimaram cerca de 30 litros de óleo diesel a cada 100 quilômetros. Cada uma das 3 turbinas dos Boeings 727-200 que transportaram a Super a regiões distantes gastou 1 610 litros de querosene de aviação por hora. E, no momento em que você lê estas linhas, seu cérebro consome 20% da energia do seu corpo, produzida com as cerca de 2 500 calorias que você ingere diariamente. Viver é usar energia.
Sem ela, o mundo desliga. As crises mundiais do petróleo, na década de 1970, são um bom exemplo de como a dependência de uma fonte de energia pode mudar o curso da história. A alta do preço do barril em 1973 e 1978 por causa dos conflitos no Oriente Médio interrompeu o mais virtuo­so ciclo de crescimento que o Ocidente vivera no século 20. No Brasil, a crise adiou o sonho de nos tornarmos uma potência: saltamos do milagre econômico, no início da década de 1970, para o endividamento e a estagnação das duas décadas seguintes. Mais recentemente, a ameaça do apagão elétrico no governo FHC, em 2001, só não foi uma catástrofe porque o Brasil cresceu a taxas medíocres. Sem energia, os preços ficam mais caros, os investimentos escasseiam e os pobres continuam pobres.
Para se salvar dessa estagnação, o ser humano criou vários jeitos de captar energia da natureza. De todos, as usinas nucleares são disparado o mais polêmico. Nenhuma forma de energia tem um passado tão horrível. A fissão nuclear é a tecnologia que gerou as bombas de Hiroshima e Nagasaki (pelo menos 130000 mortos em poucos segundos de 1945), que deixou o mundo tremendo de medo de uma destruição total durante a Guerra Fria e que, em 1986, matou 32 operários no acidente da usina de Chernobyl. Na ocasião, a radioatividade se espalhou com o vento para a Rússia e atingiu até regiões distantes como a França e a Itália. Estima-se que pelo menos 4 000 pessoas, segundo a ONU, ou 200 000, segundo o Greenpeace, tenham sido vítimas de doenças provocadas pela contaminação, como câncer de tireóide (veja imagens da tragédia de Chernobyl no Zoom, página 70).
Apesar de hoje se saber que o acidente foi provocado por falhas humanas grosseiras nos procedimentos básicos de segurança e até mesmo por erros no projeto dos reatores, Chernobyl fez a energia nuclear virar sinônimo de desastre e destruição. Grupos ambientalistas fizeram dela seu principal inimigo. A energia nuclear ficou tão associada ao mal que, poucos anos depois de Chernobyl, quando o desenhista Matt Groening criou o personagem Sr. Burns, o vilão de Os Simpsons, deu a ele o trabalho mais odioso da época: dono da usina de energia nuclear da cidade de Springfield.
Mas os tempos mudaram. Enquanto as usinas nucleares avançaram em segurança e controle dos resíduos radioativos, o mundo passou a sofrer com o gás carbônico emitido pelas fontes tradicionais de energia, como o petróleo e as usinas termoelétricas a carvão. Num mundo em que o aquecimento global é o grande problema, especialistas em energia estão fazendo perguntas incômodas para muitos ecologistas: será que a energia nuclear, apesar de todos os riscos e dos resíduos atômicos, não teria sido uma alternativa menos danosa ao meio ambiente do que as fontes que liberam gases causadores do efeito estufa e que colocam em risco todo o planeta? E mais: será que a Terra tem tempo para esperar por fontes alternativas como a solar e a eólica?
Eles mudaram de idéia
“Não”, diz o cientista britânico James Lovelock, professor da Universidade de Oxford, considerado o pai do movimento ambientalista por ter criado a Hipótese Gaia, teoria que inspirou milhares de ecologistas e cientistas na década de 1970 com a idéia de que a Terra é um organismo vivo. Em seu último livro, A Vingança de Gaia, esse senhor de 87 anos defende abertamente a expansão da energia nuclear para evitar que o impacto do aquecimento global seja ainda mais devastador. Lovelock diz que, enquanto muitas pessoas continuavam amedrontadas diante das centrais atômicas, o aumento da emissão de dióxido de carbono na atmosfera teve um efeito muito pior, colocando o planeta agora à beira de uma catástrofe climática.
“Por ser velho o bastante, posso notar uma forte semelhança entre a atitude de mais de 60 anos atrás diante da ameaça da 2ª Guerra e hoje em face da ameaça do aquecimento global”, escreveu Lovelock. De acordo com ele, assim como a Inglaterra demorou para agir diante das investidas de Hitler em 1938, boa parte do mundo continua acreditando em tratados como o Protocolo de Kyoto – compromisso de vários países para reduzirem suas emissões de carbono –, que, segundo Lovelock, não passa de uma forma política de os governantes ganharem tempo enquanto não sentem na pele a verdadeira dimensão do problema.
Lovelock acha que está na hora de aperfeiçoar a revolução energética ocorrida há cerca de 250 anos que, mais tarde, seria conhecida pelo nome de Revolução Industrial. Até o final do século 18, a principal fonte de energia na Terra era a força dos animais, do vento ou dos fluxos de água que impulsionavam os moinhos. Foi então que um engenheiro escocês chamado James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor – e o resto da história você já sabe: entramos na era industrial. A revolucionária máquina de Watt funcionava de uma maneira simples: ao queimar lenha ou carvão em uma fornalha, o vapor condensado era aproveitado para produzir pressão e movimentar uma engrenagem. Com essa idéia, passamos os últimos dois séculos queimando combustíveis fósseis (carvão, gás, petróleo e seus derivados) para gerar energia. E não estamos falando apenas da energia dos motores dos au­tomóveis, jatos e máquinas industriais. Hoje, nada menos que 66% da energia elétrica de todo o mundo tem origem na queima desses combustíveis nas usinas termoelétricas. Acontece que há pelo menos 3 décadas os cientistas sabem que os gases liberados por essa queima, como o dióxido de carbono, estão mudando o clima do planeta. Para muitos ambientalistas e climatologistas, já passou da hora de quebrar esse ciclo de queima de combustíveis fósseis. “Quaisquer que sejam as incertezas sobre o clima futuro, não há dúvida de que tanto os gases de estufa como as temperaturas estão aumentando”, diz Lovelock.
Ele não é o único a virar a casaca e pular para o lado das usinas atômicas. Em 2003, após avaliar e pesquisar dados sobre o tema, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge, EUA, recomendou a expansão da energia nuclear por acreditar “que essa tecnologia, apesar dos desafios que enfrenta, é uma alternativa importante para os EUA e para o mundo prover suas necessidades energéticas sem emitir dióxido de carbono e outros poluentes na atmosfera”. Até um dos fundadores do Greenpeace, Patrick Moore, passou a apoiar a energia tirada do núcleo dos átomos. “Trinta anos depois, minha visão mudou. E acho que o movimento ecológico como um todo também deveria atualizar sua visão sobre o tema”, afirmou ele num artigo no Washington Post no ano passado.
A consagração da energia nuclear como uma boa alternativa veio em maio, com o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU criado para ser a autoridade mundial em aquecimento global. O IPCC é claro ao afirmar que a energia nuclear é fundamental para o planeta deixar de aquecer. “Os países devem centrar-se em sistemas de energia que não emitem carbono, como energias renováveis e nuclear”, afirma o relatório.
Problema de imagem
O que leva pesquisadores sérios a defender um antigo vilão da ecologia é que, nos últimos anos, essa tecnologia se mostrou muito mais segura e pacífica do que a opinião pública imagina. “A maioria das pessoas que tem uma visão negativa sobre a energia nuclear aponta sua ligação com as armas nucleares e enxerga tudo como parte do mesmo mal”, diz William Nuttal, professor de engenharia da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e autor do livro Nuclear Renaissance (“Renascimento Nuclear”, sem versão no Brasil). “Em defesa desse argumento está o fato de que, sem o empurrão inicial para a construção das armas nucleares nas décadas de 1940 e 1950, o desenvolvimento da ciência nuclear para o uso civil não seria possível.” É difícil negar que nenhuma estratégia de marketing pode ser tão ruim para uma tecnologia como as bombas que caíram nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Mas repudiar a energia nuclear pelo seu passado negro talvez seja tão absurdo quanto banir os aviões pelo simples fato de que eles também são usados para a guerra.
Na prática, a usina nuclear funciona como uma termoelétrica (veja infográfico acima). Produz eletricidade a partir do aquecimento de água, cujo vapor pressurizado move turbinas para a produção de eletricidade. A diferença está no combustível usado. Enquanto em termoelétricas tradicionais queima-se carvão para que o vapor movimente as turbinas – liberando enorme quantidade de dióxido de carbono na atmosfera –, nas usinas nucleares usa-se o urânio enriquecido, já que o mineral é processado para que a fissão nuclear libere mais energia. É durante esse processo que pode ocorrer um acidente grave: caso o reator nuclear superaqueça com uma liberação des­controlada de calor, as paredes protetoras podem derreter e liberar radioatividade.
Acontece que, apesar de graves, os acidentes nucleares são muito mais raros e causam bem menos mortes do que se costuma imaginar. A indústria nuclear se gaba de ser um dos setores mais seguros para trabalhar. Em 2005, estatísticas do equivalente ao Ministério do Trabalho nos EUA revelaram que é mais seguro trabalhar em uma usina nuclear do que na maioria das fábricas, na construção civil e até no mercado financeiro. Se a comparação levar em conta a cadeia de produção de energia em minas de carvão e poços de perfuração de petróleo, o número de mortes em acidentes nucleares é estatisticamente insignificante.
Isso porque a tecnologia atual permite que os novos reatores sejam bem mais seguros dos que os construídos no passado. O reator de Chernobyl, por exemplo, funcionava num edifício comum, sem proteção especial, e tinha grafite entre seus componentes, elemento que entra em combustão quando aquecido demais. Hoje, uma série de novos dispositivos tecnológicos interrompe automaticamente as operações capazes de colocar os reatores em risco. Além disso, assim como acontece com a aviação civil mundial, os procedimentos de segurança da energia nu­clear seguem protocolos rígidos que são alterados à descoberta de qualquer vulnerabilidade. “Se é identificada uma falha em um reator na França, toda a indústria tem que incorporar novos procedimentos”, diz o físico Odair Dias da Costa, presidente da Comissão Nacional de Energial Nuclear, autarquia do governo federal que tem o monopólio no Brasil da mineração, produção e comércio de materiais radioativos. “Sinceramente, não conheço outra área no setor de energia com o mesmo padrão de segurança.”
Os pesquisadores costumam comparar a reação da opinião pública em relação à energia nuclear com a diante de acidentes aéreos. Por mais que se saiba que, estatisticamente, voar é mais seguro do que viajar de automóvel, a dimensão da queda de um único avião é suficiente para aterrorizar a opinião pública por anos. Como exemplo, tente imaginar como seria a reação pública brasileira e mundial caso o acidente na plataforma de petróleo da Petrobras P-36, que matou 11 pessoas e afundou R$ 1 bilhão no oceano Atlântico, em 2001, tivesse ocorrido nas Usinas Angra I ou Angra II. Difícil acreditar que a reação teria sido a mesma, não?
Mãe natureza
Há mais pontos a favor – e não só em termos de ecologia. O urânio é proveniente de países pacíficos, como Austrália, Canadá e Brasil (que tem a 5ª maior reserva do planeta). Por isso, dificilmente seu suprimento é ameaçado por grandes crises como as que ocorrem nos países produtores de petróleo, no Oriente Médio, que costumam alterar a política de fornecimento de acordo com a temperatura nas relações entre árabes e israelenses. Ou seja: a energia nuclear nos deixa livres de apoiar regimes radicais islâmicos ou ditadores latino-americanos.
Além disso, com o aumento do preço do petróleo e do gás natural, o alto custo de construção de usinas nucleares deixou de ser um grande impedimento. Ao contrário de outras fontes, o custo principal da energia nuclear deriva da construção das usinas, e não do combustível, já que o urânio é relativamente barato.
Mas ainda resta a pergunta: por que não investir em fontes de energia renováveis, como a energia solar, eólica e hidráulica, que não emitem carbono nem pro­duzem lixo radioativo? Essa é a grande questão para os opositores da energia nuclear. Para o Greenpeace, todo o discurso em prol do renascimento atômico não passa de oportunismo do setor para lucrar com o medo em torno do aquecimento global. “Mudar o modelo baseado em combustíveis fósseis para um modelo nuclear é trocar um grande problema por outro grande problema”, diz Rebeca Lerer, coordenadora da Campanha de E­nergia do Greenpeace no Brasil. “O mo­vimento de retorno à energia nuclear vai na contramão da história, tanto no resto do mundo quanto, principalmente, no Brasil, que conta com muitas outras fontes alternativas limpas.”
O problema é que os sistemas renováveis, como captam energia diretamente da natureza, também são limitados por ela. Por isso, a maioria dos engenheiros acha loucura sustentar a matriz energética de um país em sistemas eólicos ou solares, como o Greenpeace propõe.
Veja o caso da energia solar. Como armazenar eletricidade é caro e exige baterias imensas, cheias de metais pesados, os painéis voltaicos só produzem com sol batendo. À noite ou durante longos dias sem sol, nada de chuveiro quente, lâmpadas acesas ou hospitais funcionando. Além disso, a energia solar tem um rendimento extremamente baixo para gerar eletricidade. Um exemplo é o centro de energia solar de Monte Alto, um dos maiores do mundo, inaugurado este ano na Espanha. Numa área de 55 campos de futebol, tem 889 estruturas de 50 e 100 m2. Ao todo, são 52 000 módulos fotovoltaicos que geram no máximo 9 MW. Para gerar o mesmo que Angra 2 (1 350 MW), teria que ter 7,8 milhões de módulos, ocupando 7 650 hectares – o mesmo que 7 000 campos oficiais. Ah, claro, ainda seria preciso torcer para que fizesse sol em todos esses campos.
Já a energia eólica é mais fácil de ser captada – os cataventos maiores e mais modernos ultrapassam 4 MW de potência cada um. Mas também há dificuldades estruturais. Ao contrário da água dos rios, o vento não pode ser represado. As usinas só funcionam em locais com ventos fortes e sua produção depende diretamente da quantidade deles. “Claro que se deve investir em energia eólica e solar, mas não é nenhum problema reconhecer que hoje elas são caras e pouco competitivas”, diz Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Ener­gética (EPE), do governo federal.
Das energias sustentáveis, a hidrelétrica é a que está mais à frente. As usinas podem aproveitar desde a força de pequenos rios até quedas grandes e com volume, como Itaipu, com capacidade suficiente para mover um país inteiro – o Brasil, por exemplo, tem 77% de sua energia vinda dessa fonte. Claro que há desvantagens – áreas imensas alagadas, milhares de famílias desalojadas, extinção de espécies –, mas elas podem ser resolvidas com tecnologias mais eficientes e não assustam tanto quanto o carbono na atmosfera ou o lixo radioativo. O grande problema é que a energia hidrelétrica é limitada aos rios que um país possui e pelo que acontecer com eles no futuro.
Mesmo o Brasil, país com um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo, tem motivos para se preocupar. O Ministério de Minas e Energia prevê que, em 23 anos, a população do Brasil vá para 238 milhões de habitantes, e que cada um deles consuma o dobro de energia, triplicando a eletricidade que o país precisa (veja boxe na página a seguir). “O potencial de energia hidrelétrica do Sul e do Sudeste está quase esgotado”, afirma Marco Aurelio dos Santos, do Programa de Planejamento Energético da UFRJ. E as hidrelétricas são vulneráveis a variações sazonais no nível dos reservatórios das usinas, que podem aumentar com o aquecimento global. “Mais da metade do potencial do país está na Amazônia, região que deve ser a mais afetada com o aquecimento da Terra.” Os climatologistas prevêem que a parte oriental da Amazônia, onde hoje está a usina de Tucuruí e a maior parte do potencial energético brasileiro, tenha cada vez menos chuvas. Sem chuvas, sem vazão dos rios, sem energia.
Já as usinas nucleares produzem quanto os técnicos desejarem e na hora que eles quiserem. Há o limite da quantidade de urânio disponível, mas ele não deve acabar nos próximos séculos. Agora os técnicos se concentram para resolver o maior problema das usinas: o que acontece depois que elas geram energia.
E o lixo atômico?
Reatores nucleares não soltam dióxido de carbono na atmosfera, mas deixam como subproduto o rejeito nuclear ou, como é mais conhecido popularmente, o temido lixo atômico. Esse é o calcanhar-de-aquiles dessa fonte energética. O problema vem do fato de que alguns rejeitos radioa­tivos derivados do urânio duram dezenas de milhares de anos, período em que devem ser mantidos em cápsulas ultra-seguras de concreto e chumbo.
Por enquanto, tudo o que se tem feito é enterrar o problema, montando reservatórios embaixo de formações rochosas estáveis. O maior depósito de resíduos nucleares do mundo está sendo construído na montanha Yucca, no estado de Nevada, EUA. Os cerca de 80 quilômetros de túneis abertos no interior de origem vulcânica podem receber 70 000 toneladas de rejeitos. A montanha também vai receber o material radioativo oriundo do arsenal nuclear que os EUA herda desde a Guerra Fria. O reservatório, que deve custar US$ 50 bilhões e foi programado para entrar em operação em 2010, corre, contudo, o risco de não ser inaugurado. Como os democratas venceram as últimas eleições, o senador Harry Reid, eleito pelo partido em Nevada, promete impedir sua abertura.
Devido a resistências políticas e ambientais – nenhuma região quer sediar um reservatório desses – a solução definitiva para pôr fim ao problema pode vir da própria pesquisa subatômica. Um dos caminhos mais promissores está sendo estudado no Japão, onde cientistas do Projeto Kumatori trabalham com a possibilidade de construir um reator subcrítico – uma espécie de reator nuclear capaz de diminuir, com ajuda de um acelerador de partículas, o tempo de vida da radioatividade de resíduos de milhares para centenas de anos. Segundo os físicos envolvidos no projeto, o primeiro transmutador, outro nome do equipamento, pode começar a operar em 2015. Até lá, a maioria dos países que usam energia nuclear gastará anualmente milhões de dólares para garantir a segurança dos resíduos, ar­mazenados, na maioria dos casos, em depósitos das próprias usinas, como é o caso de Angra I e Angra II, no Brasil.
Enquanto o problema não ameniza, os pesquisadores lembram que, exatamente por serem perigosos, os resíduos atômicos são de responsabilidade do governo federal e tratados como assunto de segurança interna, ao contrário dos resíduos e poluentes que são jogados diariamente em rios, oceanos ou mesmo na atmosfera.
Para a energia nuclear seguir como uma fonte limpa e segura, também é preciso haver uma fiscalização mundial de como a tecnologia é usada. “É difícil para as potências mundiais estimularem a produção de energia nuclear em seus países ao mesmo tempo em querem controlar o uso dessa energia em nações como o Irã e a Coréia do Norte”, diz o físico José Goldemberg, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia e um dos maiores especialistas em energia nuclear do Brasil.
Por trás desse tipo de preocupação, há sempre o medo de que instalações nucleares para a produção de energia venham a ser usadas para a produção de bombas. Mas não é difícil para os inspetores internacionais saberem se, de fato, uma instalação nuclear será usada para energia ou para armas. “O problema não é os países terem reatores nucleares, mas o de não estarem abertos para inspeções que garantam que essa é a finalidade única de seus programas atômicos”, diz Odair, da Comissão Nacional de Energia Nu­clear. “Se o objetivo for o de apenas produzir energia, os países podem, por exemplo, deixar que o enriquecimento do urânio fosse feito em outro país.”
Quem faz essa inspeção mundial é a Agência Internacional de Energia Atômica, organismo da ONU criado em 1957 e responsável pelo controle da disseminação da energia nuclear. O papel da agência não é o de impedir países de produzir energia nuclear, e sim o de assegurar que a tecnologia atômica desses países está sendo direcionada para fins pacíficos. Em 2005, a agência e seu diretor, o egípcio Mohamed El Baradei, receberam o Prêmio Nobel da Paz.
Futuro nuclear
O prêmio é merecido: graças à fiscalização rígida dos reatores, a energia atômica e ecológica já é realidade. Ela representa 80% da energia da França, 57% da energia da Bélgica, 39% da energia do Japão, 39% da energia da Coréia do Sul, 30% da energia da Alemanha, 46% da energia da Suécia, 40% da energia da Suíça e 20% da energia dos EUA – somente essa porcentagem nos EUA supera toda a eletricidade produzida no Brasil. No mundo inteiro, a energia nuclear representa 17% da produção de energia elétrica.
Não deixa de ser curioso que a França, cujos cidadãos são conhecidos pela ferrenha força de suas posições políticas, seja o país em que a energia nuclear encontra menos resistência na opinião pública. Pouca gente que visita as tranqüilas cidades medievais no interior do país costuma se dar conta de que a energia elétrica produzida lá tem origem em reatores nucleares. A pequena cidade de Civaux, no sudoeste francês, é um exemplo típico de pacata cidade que se orgulha de ter sido escolhida para sediar uma central nuclear. O visitante que procurar informações turísticas na cidade encontrará lá informações detalhadas da tecnologia “de última geração” de sua usina nuclear.
A opção nuclear no país se deu logo após a primeira crise do petróleo, em 1973. Como a maior parte da energia elétrica francesa era gerada pela queima de óleo, o preço do barril 4 vezes mais caro obrigou o governo a agir rápido, já que a França não tem capacidade hidrelétrica nem reservas de petróleo, gás ou carvão. Até pouco tempo, quando os franceses eram questionados sobre a opção nuclear do país, a resposta era: “Sem petróleo, sem gás, sem carvão, sem escolha”. Hoje, tanto a esquerda quanto a direita aceitam a energia nuclear com naturalidade e o país conta com quase 60 usinas espalhadas em seu território, chegando a exportar energia para os vizinhos, sem nenhum acidente com vítimas há décadas. Pesquisas no país revelam que cerca de dois terços da população aprovam a energia nuclear. E a França se tornou o país da Europa Ocidental com menor emissão de carbono por habitante.
Outros países devem seguir o exemplo da França. A Agência Internacional de Energia publicou no final do ano passado um relatório com a previsão de que a geração de energia nuclear deve crescer entre 13 e 40% até 2030. O próprio presidente da agência, Claude Mandil, defende que a energia nuclear se consolide cada vez mais como parte do mix energético mundial. As construtoras de reatores, é claro, já estão se movimentando. O departamento de energia nuclear da gigante americana General Electric (GE) prevê que 44 grandes reatores nucleares serão encomendados até 2020, e a empresa francesa de energia nuclear Areva estima que 130 novas plantas serão feitas até 2030.
Pelo menos 4 desses novos projetos serão instalados no Brasil – um dos 8 países com tecnologia e autorização para enriquecer urânio. Atualmente, Angra I e II fornecem só 2,2% da nossa eletricidade. Para prevenir o país de apagões, o governo espera construir Angra 3 (que já consumiu US$ 700 milhões e pode gastar pelo menos o dobro desse valor para entrar em operação), mais uma usina até 2025 e mais 2 ou 3 após esse período, dobrando a participação da energia nuclear no país. “Apesar de ainda termos grande potencial hidrelétrico, é claro que ele tende a diminuir ao longo das décadas, o que nos obriga a dominar outras tecnologias, inclusive a nuclear”, afirma Maurício, da EPE. “Como precisamos traçar cenários por décadas, não podemos descartar o know-how que temos da tecnologia nuclear, ainda que ela não venha a ter um protagonismo central no fornecimento energético do país.”
O Brasil ainda é um dos poucos países com a vantagem de ter várias fontes energéticas, por isso a discussão em torno da energia nuclear deve durar mais. No resto do planeta, onde as opções são bem mais escassas, a ameaça do aquecimento global tem tornado imprudente tratar o tema de forma caricaturada. Até mesmo porque, dependendo do quanto a Terra aquecer nos próximos anos, a fisionomia do planeta pode se tornar bem mais feia do que a cara enrugada do Sr. Burns.
1. Escrito nas estrelas
Há bilhões de anos, explosões de estrelas supernovas soltaram pedras a 10 000 km/s. Essa matéria se colidia, provocando fusões nucleares. O resíduo das explosões (elementos como ouro, chumbo, ferro e urânio) ajudaram a formar a Terra.
2. Minério de urânio
Cerca de 500 vezes mais comum que o ouro, o urânio está alojado em rochas simples a poucos metros de profundidade. O Brasil tem a 5ª maior reserva de urânio do mundo. Nas minas, ele vira um pó amarelo, o yellow cake.
3. Enriquecimento
Existem 3 tipos de urânio. O mais raro é o isótopo 234 e o mais comum é o 238 (compõe 99,3% do total). O urânio 235 é mais instável: suas ligações quebram bem facinho, por isso é o preferido das usinas. Para usar urânio como combustível, é preciso enriquecê-lo: botar um pouco de U 235 no U 238.
4. Balinhas
Depois de separado, triturado e enriquecido, o urânio vira pastilhas de 1 cm de altura e 0,8 cm de diâmetro. Cada uma delas gera energia suficiente para uma casa durante um mês. Até aqui, o urânio é uma pedra comum, que não emite radioatividade perigosa. É em forma de pastilha que ele virar energia na usina nuclear (veja na página seguinte).
5. Lixo dos piores
Depois da fissão nuclear na usina, o que resta são átomos radioativos de plutônio, iodo, césio e dezenas de outros elementos. O plutônio emite radiação alfa, que é captada pelos ossos humanos e causa câncer em poucos dias. Roupas, ferramentas, peças e canos impregnados de radioatividade são lixos atômicos mais leves.
6. Debaixo do tapete
O plutônio precisa ser armazenado em câmaras de concreto e chumbo até que pare de oferecer tanto risco – cerca de 24 000 anos. As usinas de Angra 1 e Angra 2 produzem 43 toneladas desse lixo atômico por ano. Ele também pode voltar ao laboratório e ser usado em bombas atômicas como a de Nagasaki.
Perigo!
Medindo a concentração de urânio 235, os inspetores internacionais descobrem que fim o material terá. O urânio que serve para mover submarinos nucleares e usinas é enriquecido com 3% de Urânio 235. Já bombas atômicas precisam de pelo menos 90% dele.
1. No forno
As pastilhas de urânio lá da página anterior são empilhadas em varetas de uma liga super-resistente. A usina Angra II tem cerca de 10 milhões de pastilhas, que duram em média 3 anos. Todas elas ficam no coração da usina: o reator nuclear.
2. Fissão
Os prótons e os nêutrons do núcleo do átomo de urânio são ligados por uma energia enorme – a energia nuclear. Quando um nêutron atinge o átomo, a ligação se rompe, o núcleo se divide em dois, libera radiação e calor. Cada átomo solta também 2 ou 3 nêutrons – que vão dividir outros átomos, criando uma reação em cadeia.
3. Bafo quente
Uma corrente de água sob pressão atravessa o reator captando o calor liberado durante a fissão nuclear. Esse calor vai para outra câmara, o vaso de pressão. A água ali dentro superaquece e vira vapor a alta pressão, que vai girar as turbinas da usina.
4. Uma usina comum
Depois da reação nuclear, a usina é igual a qualquer termoelétrica. A turbina é o contrário de um motor elétrico. Em vez de a energia elétrica virar movimento, como num liquidificador, o movimento vira energia elétrica.
5. Barreira total
A contenção, uma parede de aço e concreto, protege o mundo do reator e o reator de quedas de aviões, raios ou ataques aéreos. Se houver vazamentos, eles dificilmente saem da contenção.
6. Fumaça verde
Depois de passar pela turbina, a água do vaso de pressão é resfriada com água fria. É por isso que as usinas nucleares geralmente são na beira de um rio ou na praia, como em Angra dos Reis. Parte dessa água do mar vira vapor, que sai pela chaminé da torre de resfriamento.
7. À prova de sono
Para controlar a reação em cadeia, barras de boro e cádmio, que atraem nêutrons, descem em direção às pastilhas do reator. Sem nêutrons, não tem mais como os átomos de urânio se dividir: a reação pára.
Atenção
• Em vez de água, Chernobyl usava grafite, que queima quando quente demais.
• Em 1979, um vazamento no reator de Three Mile Island (EUA) não saiu da contenção. Fora dela, não aconteceu nada.
• Se algo der errado, o reator nuclear pára mesmo se o inspetor estiver dormindo.
Nuclear - 10 gramas de urânio
Ponto forte - Não emite gases que causam o efeito estufa, por isso não contribui com o aquecimento global.
Ponto fraco - Requer uma solução de milhares de anos para o armazenamento do lixo nuclear e pode facilitar a produção de bombas.
Termoelétrica- 1 200 quilos de carvão
Ponto forte - O combustível é relativamente barato e ainda abundante em países como EUA, Rússia e China.
Ponto fraco - Altamente poluente. Libera não apenas grande quantidade de dióxido de carbono como também mercúrio e dióxido sulfúrico.
Biomassa - 75 toneladas de bagaço de cana
Ponto forte - É uma energia renovável, que pode ser consumida e replantada, liberando menos carbono que o petróleo.
Ponto fraco - Não é eficiente para a produção de energia elétrica: exige muita cana-de-açúcar para poucos watts de potência.
Hidrelétrica - 5 piscinas olímpicas*
Ponto forte - Energia barata e limpa: a manutenção custa pouco e a represa emite pouco carbono na atmosfera.
Ponto fraco - Fonte limitada pela natureza: seu potencial tende a diminuir com o tempo – e pode ser afetado pelo aquecimento global.
Eólica - um dia de uma grande turbina
Ponto forte - Não polui e causa pouco impacto ambiental (não exige grandes espaços alagados ou com plantações).
Ponto fraco - Como o vento não pode ser represado, é uma energia imprevisível, vulnerável a oscilações climáticas.
Solar - dois anos de sol**
Ponto forte - A luz é gratuita e não emite gases do efeito estufa.
Ponto fraco - Necessita de grandes extensões para a produção de pouca energia, e só faz sentido em locais com forte incidência de luz solar.
* Referente à energia gerada pela queda d’água em uma turbina da usina de Itaipu.
** Considerando 10 módulos de 1 m2 instalados no interior de SP. Fontes: Jair Maués (Projetos Especiais de Desenvolvimento Energético da Petrobras), Eletronuclear, Ministério de Minas e Energia (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Fidrelétrica - R$ 0,06 - 33 gramas
Nuclear - R$ 0,15
Biomassa - R$ 0,12 - 83 gramas
Eólica - R$ 0,23
Solar - R$ 0,37
Termoelétrica - R$ 0,18 - 276 gramas
Novas itaipus
Grandes usinas hidrelétricas na Região Norte.
Gás
Triplicar a potência das usinas movidas a gás.
Itaipuzinhas
Pequenas centrais hidrelétricas, principalmente no Sul e no Sudeste.
Biomassa
Quase 3 000 termoelétricas movidas a bagaço de cana, restos de madeira, casca de arroz.
Vento ventania
1 100 grandes cataventos de energia eólica no Nordeste e no Sul.
Angra 5
Pelo menos mais 4 usinas nucleares no Sudeste e no Nordeste.
Brasa, mora
Dobrar as usinas a carvão mineral nas regiões produtoras.
Nuclear Renaissance
W.J. Nuttall, Institute of Physics Publishing, Inglaterra, 2004.
Energia Nuclear: Sim ou Não?
José Goldemberg, José Olympio, 1987.
Revista Estudos Avançados da USP
Número 59 - Dossiê Energia, Edusp, 2007.




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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A Amazônia Azul


Toda riqueza acaba por tornar-se objeto de cobiça, impondo ao detentor o ônus da proteção. Tratando-se de recursos naturais, a questão adquire conotações de soberania nacional, envolvendo políticas adequadas, que não se limitam a, mas incluem, necessariamente, a defesa daqueles recursosNesse contexto, a Amazônia brasileira, com mais de 4 milhões de Km², abrigando parcela considerável da água doce do planeta, reservas minerais de toda ordem e a maior biodiversidade da Terra, tornou-se riqueza conspícua o suficiente para, após a percepção de que se poderiam desenvolver ameaças à soberania nacional, receber a atenção dos formuladores da política nacional. Assim, a região passou a ser objeto de notáveis iniciativas governamentais, que visam à consolidação de sua integração ao território nacional, à garantia das fronteiras, à ocupação racional do espaço físico e à exploração sustentada dos importantes recursos naturais ali existentes. Como exemplos dessas iniciativas podemos citar o Projeto Calha Norte e o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), que inclui o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM).Entretanto, há uma outra Amazônia, cuja existência é, ainda, tão ignorada por boa parte dos brasileiros quanto o foi aquela por muitos séculos. Trata-se da Amazônia Azul que, maior do que a verde, é inimaginavelmente rica. Seria, por todas as razões, conveniente que dela cuidássemos antes de perceber-lhe as ameaças.Conforme estabelecido na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, ratificada por quase cem países, inclusive o Brasil, todos os bens econômicos existentes no seio da massa líquida, sobre o leito do mar e no subsolo marinho, ao longo de uma faixa litorânea de 200 milhas marítimas de largura, na chamada Zona Econômica Exclusiva (ZEE), constituem propriedade exclusiva do país ribeirinho. Em alguns casos, a Plataforma Continental (PC) - prolongamento natural da massa terrestre de um Estado costeiro - ultrapassa essa distância, podendo estender a propriedade econômica do Estado a até 350 milhas marítimas. Essas áreas somadas - ZEE mais a PC - caracterizam a imensa Amazônia Azul, medindo quase 4,5 milhões de Km², o que acrescenta ao País uma área equivalente a mais de 50% de sua extensão territorial.No Brasil, apesar de 80% da população viver a menos de 200 Km do litoral, pouco se sabe sobre os direitos que o País tem sobre o mar que lhe circunda e seu significado estratégico e econômico, fato que, de alguma forma, parece estar na raiz da escassez de políticas voltadas para o aproveitamento e proteção dos recursos e benefícios dali advindos.Citemos, de início, o transporte marítimo. Apesar de ser lugar comum afirmar que mais de 95% do nosso comércio exterior é transportado por via marítima, poucos se dão conta da magnitude que o dado encerra. O comércio exterior, soma das importações e das exportações, totalizou, no ano passado, um montante da ordem de 120 bilhões de dólares. Ademais, não é só o valor financeiro que conta, pois, em tempos de globalização, nossos próprios produtos empregam insumos importados, de tal sorte que interferências com nosso livre trânsito sobre os mares podem levar-nos, rapidamente, ao colapso. A conclusão lógica é a de que somos de tal maneira dependentes do tráfego marítimo, que ele se constitui em uma de nossas grandes vulnerabilidades. Como agravante, o País gasta com fretes marítimos, anualmente, cerca de 7 bilhões de dólares, sendo que apenas 3% desse total são transportados por navios de bandeira brasileira.O petróleo é outra grande riqueza da nossa Amazônia Azul. No limiar da auto-suficiência, o Brasil prospecta, no mar, mais de 80% do seu petróleo, o que, em números, significa algo na ordem de 2 milhões de barris por dia. Com as cotações vigentes, é dali extraído, anualmente, um valor aproximado de 22 bilhões de dólares. Novamente, não é só o valor financeiro que conta. Privados desse petróleo, a decorrente crise energética e de insumos paralisaria, em pouco tempo, o País.Além do tráfego marítimo e do petróleo, que, per se, já bastariam para mensurar o significado da nossa dependência em relação ao mar, poderíamos mencionar outras potencialidades econômicas como, por exemplo, a pesca. Em que pese a vastidão da área a explorar, a pesca permanece praticamente artesanal, enfrentando dificuldades de toda ordem, que elevam os custos e limitam a produção, quando poderia ser uma valiosa fonte para a geração de empregos e, também um poderoso aliado para o Programa Fome Zero. Existem, ainda, potencialidades menos tangíveis, como os nódulos polimetálicos, jazentes sobre o leito do mar e cuja exploração, economicamente inviável no presente, poderá se tornar considerável filão de riquezas no futuro.Na Amazônia Verde, as fronteiras que o Brasil faz com seus vizinhos são fisicamente demarcáveis e estão sendo efetivamente ocupadas com pelotões de fronteira e obras de infra-estrutura. Na Amazônia Azul, entretanto, os limites das nossas águas jurisdicionais são linhas sobre o mar. Elas não existem fisicamente. O que as definem é a existência de navios patrulhando-as ou realizando ações de presença.Para tal, a Marinha tem que ter meios, e há que se ter em mente que, como dizia Rui Barbosa, Esquadras não se improvisam. Para que, em futuro próximo, se possa dispor de uma estrutura capaz de fazer valer nossos direitos no mar, é preciso que sejam delineadas e implementadas políticas para a exploração racional e sustentada das riquezas da nossa Amazônia Azul, bem como sejam alocados os meios necessários para a vigilância e a proteção dos interesses do Brasil no mar.

Roberto de Guimarães Carvalho
Almirante-de-Esquadra
Comandante da Marinha

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