sábado, 8 de novembro de 2008

Racismo- Dois filmes que valem a pena assistir.






Dois filmes observam, a partir de contextos diferentes, a dificuldade de aceitar e conviver com as diferenças

O debate sobre diversidade étnica e cultural tem atravessado o cotidiano escolar com assustadora freqüência, ora sob influência dos programas curriculares, ora pelo interesse dos alunos. Dois filmes recentes abordaram o tema a partir de pontos de vista distintos: Crash – No limite (Paul Haggis, 2004) e Quanto Vale ou É Por Quilo? (Sérgio Bianchi, 2005).


Crash narra a história de alguns moradores de Los Angeles que, embora desconhecidos entre si, interferem uns na vida dos outros. A cada encontro casual (crash pode ser traduzido por “trombada”) eles destilam preconceito, cinismo e agressividade: uma porto-riquenha debocha da pronúncia em inglês de uma oriental, um iraniano ofende os mexicanos, um policial branco humilha um casal negro. Marcados pela origem étnica e posição de classe, nenhum personagem parece capaz de enxergar o outro e compreendê-lo na sua humanidade, diversa e una, simultaneamente.


Neste filme, um sutil jogo de pontos de vista impede o maniqueísmo e aposta na ambivalência dos personagens: o “bom mocinho” aceita um acordo desonesto para livrar o irmão da cadeia, o “cara mau”, branco e racista, se arrisca para salvar uma mulher negra. Esta inversão de papéis e a quebra de expectativas não impedem a lição moral: depois de sofrer, é preciso reverter o quadro de intolerância e racismo.


Para que isto funcione, os elementos narrativos devem conduzir a uma experiência traumática capaz de revelar ao personagem algo novo, sobre seus valores e atitudes. Daí, a mágica dos bons sentimentos: os racistas descobrem o amor pela humanidade, os cínicos são capazes de um gesto honesto, os orgulhosos, de humildade.


Vale discutir que, se o filme traça um diagnóstico complexo das tensões étnicas e sociais da vida norte-americana, a solução proposta é simplista: assume uma perspectiva moralizante que culpa o indivíduo pelas mazelas do mundo.


Em Quanto Vale Ou É Por Quilo?, a narrativa costura histórias da escravidão a uma trama contemporânea sobre exclusão social para compor um quadro desolador da sociedade brasileira. No filme, a intolerância não é assunto moral, mas econômico: o pobre (o escravo) é mercadoria a ser vendida e comprada. Inspirado no conto de Machado de Assis, “Pai contra mãe”, e em documentos do século XVIII, o filme constrói um paralelo entre o tratamento dado aos escravos e a exploração da miséria por organizações não-governamentais. Entre os pobres também não há solidariedade: qualquer trocado compra a dignidade e a vida. Não há redenção, afinal, ninguém vale o que come.


O debate sobre o filme do Bianchi, em sala de aula, costuma ser acalorado, mas a ausência de perspectivas, às vezes, leva os alunos a aceitar a intolerância e o racismo como inevitáveis. Pode ser um bom momento para conversar sobre ética e cotidiano escolar, apontando possibilidades reais de um convívio que respeite a diferença e valorize a diversidade.

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