quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Astrônomos fazem 1ª foto de um sistema extra-solar

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

Dois grupos independentes de astrônomos anunciam hoje ter conseguido avistar diretamente planetas orbitando outras estrelas. Esses corpos celestiais que orbitam outras estrelas já haviam sido detectados de modo indireto e até fotografados antes, mas as imagens obtidas dependiam de confirmação. Agora, os exoplanetas foram flagrados se movendo ao redor de suas estrelas.

Os cientistas descrevem a descoberta em dois artigos na revista "Science". Um dos grupos achou três exoplanetas em torno de uma estrela na constelação do Sagitário usando técnicas especiais para modificar imagens dos telescópios Gemini e Keck, no Havaí (EUA).

Gemini Observatory/Divulgação
Fotos tiradas por grandes telescópios mostram dois dos planetas descobertos, orbitando suas estrelas; há dúvidas sobre descoberta
A fotografia obtida pelo método, porém, não é do tipo que inspiraria efeitos especiais num filme de ficção científica. Quem esperava ver algo tão belo quanto as fotos que a sonda Cassini tira de Júpiter terá de se contentar agora com uma imagem um tanto artificial, processada por instrumentos de alta tecnologia.

Mesmo assim, dizem os astrônomos, já é um tremendo avanço. Outras técnicas se valem apenas de efeitos indiretos, como o chamado "trânsito" --a mudança de luminosidade que os exoplanetas provocavam em suas estrelas ao promover pequenos eclipses.

Outra técnica analisa a oscilação de freqüência da luz da estrela quando ela "rebola", perturbada pela gravidade de planetas.

Ser capaz de enxergar planetas dá um bocado de flexibilidade à pesquisa, disse à Folha o astrônomo Christian Marois, do Instituto Herzberg, de Victoria (Canadá), líder do estudo.

"Para ver o "trânsito", é preciso estar num alinhamento específico com o planeta e a estrela observados, numa órbita de perfil", explica o cientista, apontando limites também na técnica de oscilação. "Os três planetas que vimos agora, por exemplo, orbitam muito longe da estrela-mãe, e para conseguir detectar a assinatura do rebolado deles seria preciso esperar de 100 a 400 anos."

Segundo Gustavo Mello, do Observatório do Valongo, no Rio, que leu o estudos da "Science", ainda há porém alguma discussão na comunidade científica sobre se os objetos como os avistados por Marois são exatamente planetas.

"É bom esperar um pouquinho antes de bater o martelo, apesar de serem trabalhos convincentes", diz o cientista. Ele explica que os planetas descritos pelo canadense são até dez vezes mais maciços do que Júpiter, e isso talvez os qualifique como "anãs marrons", uma classe de objeto que é intermediária entre planeta e estrela.

AP

Imagem do telescópio Hubble mostra o planeta Fomalhaut b, descoberto por cientistas da Universidade de Berkeley
Além de Marois, escreve na "Science" o grupo de Paul Kalas, da Universidade de Berkeley, que detectou um planeta com massa bem menor (da ordem de dois Jupíteres), mas com imagem um pouco ofuscada pelo disco de gás e poeira em torno de sua estrela-mãe.

Esse mar de detritos é comum em estrelas bem mais jovens que o Sol. Por causa disso, os planetas descobertos devem ajudar o debate sobre a formação do próprio Sistema Solar. Marois afirma que o sistema descoberto por seu grupo é mesmo uma espécie de "versão ampliada do Sistema Solar".

Sua técnica, porém, ainda não vê planetas pequenos como a Terra. "Para achar esses planetas seria preciso um telescópio espacial com aparatos muito modernos", diz. "Podem se passar 20 ou 30 anos até lá."

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